Friday, March 31, 2017

Início

1. O blog

Pensei neste blog como uma forma de ecoar a reuniao oferecida pelo Lula a 10 dos seus melhores amigos no dia 14 de agosto de 2005.

Ele concordou com a idéia, e vai dizer se aprova ou não este texto, na qualidade de principal interessado.

2. Lula

Sei da existência do Lula desde 1974. Ele era magricela e muito branco, e fazia parte da outra banda da escola. Meu amigo de então e que até hoje permanece era José Marcos Gonçalves.

Como nos tornamos amigos em 1979, resta que o conheço há 31 anos, e de amizade temos 26. Aqueles 29 anos são uma interpolação ou, no máximo, uma verdade jornalística.

Pensei um pouco nas nossas semelhanças. Desde aquele início lidamos com esta ansiedade, o olhar curioso, a recusa aos conflitos. Enfrentamos juntos as tentativas adolescentes de equilibrar, no amor e na sexualidade, a afetividade e os desejos; entre estes o maior, o de sermos amados. Na amizade Lula é presente e participante: mantém luvas nos assuntos mais difíceis, mas vai em frente mesmo depois que eu já parei.

Entre as diferenças, acho que a maior é a sua franqueza desconcertante. Também temos maneiras muito distintas de expressar a emoção, mesmo sendo uma portadora intensa das nossas presenças por aqui.

Nos encontramos novamente naquele que é nosso principal defeito, a teimosia, baseada quase sempre num pensar esteticamente atraente, mantido a duas penas contra tudo e todos. E é da ilusão (ou da convicção) da inteligência que retiramos (ou pela qual confirmamos) nossas maiores burrices.

Intensidade, recursividade, criatividade, e uma objetividade colorida de obsessão, características tão conhecidas por todos nós. E percebo que até hoje me causa espécie aquilo que me impressionou nos primeiros contatos mais próximos: a rejeição à convencionaildade, a intimidade com o absurdo, a disponibilidade para a novidade.

3. Amizade

Foi o olho irrequieto dele que me encontrou. Assim, como os bons Gualter e Monte Alegre, arrancou-me um pouco mais de mim mesmo.

Convidei-o para o então Clã do Jabuti, e fico feliz de ver que alguns de seus melhores amigos vieram desta junção e daquilo que se tornou depois o Clãdestino. (Na verdade o Lula fez uma avalanche no Clã, teve e despertou paixões, dividiu águas, etc.)

Numa ocasião em que muitas das minhas relações adoeceram, Lula permaneceu: silente e presente apesar da minha ausência. Foi um gesto difuso e constante, que até hoje não lhe agradeci, assim como à despedida que me fizeram ele e Ítala quando fomos para o Acre, e que tanto valor teve.

4. A Reunião dos Amigos

Gostei do evento lulesco, embora prefira chamá-lo lular. (Em alguns casos poderemos usar o qualificativo lulante, que tal?) Sua absoluta excentricidade foi facilmente digerida, em conjunto, por pessoas acostumadas ao estilo. Durante a reunião achei que a palavra deveria ter sido concedida aos citados, mas entendi a suspensão da catarse, numa administração eficaz da emoção, necessária e previdente.

Também foi muito bom conhecer mais um pouco os demais 9, em particular os que não são do Clã (este monossílabo tão restritivo).

5. O objetivo da reunião

Capacidade e criatividade não faltam ao nosso personagem. Ele pode fazer o que quiser em diversas áreas.

Lula parece ter uma crise de ordem pessoal, com reflexões no trabalho e no amor.
Tem a coragem e a virtude de falar da crise, de relacionar seus efeitos, de dividi-las com outras pessoas. E acho que tem duas dificuldades principais: hesita em se aprofundar em si mesmo, em mergulhar no próprio inconsciente; e alimenta o mito das soluções simples.

Estas são as minhas apreciações tão baratas. O que fazer? Minhas soluções preferidas parecem só atender a mim mesmo, e devem parecer muito estranhas ao Lula, mas têm me valido até aqui.